UM PEQUENO SHAKESPEARE

Roberto Gómez Bolaños foi escritor, ator, produtor e diretor de rádio, cinema, televisão e teatro, músico e poeta. Nascido na Cidade do México em 21 de fevereiro de 1929, tornou-se conhecido por ser o criador e intérprete dos mundialmente conhecidos personagens Chaves e Chapolin Colorado. 

O filho do meio de Elsa Bolaños Cacho (1902-1968) e Francisco Gómez Linhares (1892-1935) tinha tudo para ser engenheiro, mas tornou-se “um pequeno Shakespeare”.

No começo da década de 1950, quando ele viu um anúncio — “Precisa-se de aprendiz de produtor de rádio e televisão e aprendiz de redator” —, feito pela agência de publicidade D’Arcy, foi ao prédio com intenções de se candidatar a aprendiz de produtor. Mas a vontade de economizar tempo fez com que Roberto fosse à fila menor — a de redator — e, assim, tudo mudou.

Após aprender muito trabalhando, escreveu jingles, textos publicitários e, pelo senso de humor, começou a escrever programas cômicos — de rádio e televisão, para a dupla de humoristas Viruta e Capulina.

-Roberto, mãe e irmãos.

Roberto começou a desenvolver, também, argumentos e roteiros de cinema para Viruta e Capulina. O diretor de parte desses filmes era Agustín P. Delgado, famoso cineasta mexicano. Ele criou tanto apreço pelo roteiro de Roberto que logo o apelidou de “Shakespearito”, o que seria um diminutivo, em espanhol, para Shakespeare, o famoso dramaturgo inglês. Com adaptações, o apelido modificou-se até chegar ao que todos conhecemos: Chespirito. Com seus 1,62 m de altura, sua facilidade em escrever e fazer tipos, aos poucos sua genialidade pôde ser vista de uma forma como ele nunca se viu: gigante.

Foi em Cómicos y Canciones, humorístico exibido ao vivo — e escrito por Roberto —, que ele atuou pela primeira vez, ao lado de Viruta e Capulina. Isso aconteceu após um ator faltar e somente ele saber o texto completo, por motivos óbvios.

El Estudio de Pedro Vargas, programa humorístico de outra emissora, também passou a ser escrito por Roberto e, com isso, tornou-se concorrente de Cómicos y Canciones. Todos disputavam o talento do rapaz.

LINHA DO TEMPO

1929

Nasce Roberto Gómez Bolaños. Ele teve dois irmãos, Francisco (1926-2000) e Horácio (1930-1999), fundamentais em sua carreira, gerindo seus negócios e contribuindo artisticamente.
1929

1950

Inicia sua trajetória como redator, seguindo para o rádio e a televisão. Seus maiores trabalhos nessa década foram para a dupla de humoristas Viruta e Capulina.

1950

1956

Casa-se com Graciela, sua primeira esposa e mãe de seus seis filhos: Graciela, Cecilia, Teresita, Marcela, Roberto e, por último, Paulina.

1956

1960

Estreia como ator no filme Dos criados malcriados, estrelado por Viruta e Capulina. Pouco depois, adota o apelido como nome artístico, “Chespirito”.

1960

1969

Cria e protagoniza Los supergenios de La Mesa Cuadrada, quadro do programa Sábados de la Fortuna. María Antonieta de las Nieves, Ramón Valdés e Rubén Aguirre já faziam parte do elenco.

Cria e protagoniza o programa El Ciudadano Gómez.

1969

1970

Los supergenios de La Mesa Cuadrada já é um programa solo, e o Chapolin Colorado faz sua estreia ali, cativando o público mexicano.

1970

1971

O programa de Roberto ganha um novo nome: Chespirito, justamente seu nome artístico.

1971

1972

Com a ausência de Rubén Aguirre no elenco, Chespirito reaproveita um personagem de um quadro “solto” e cria o Chaves, que se torna parte do programa Chespirito, tornando-se um grande sucesso.

1972

1973

O programa Chespirito sai do ar. Chaves e Chapolin ganham seus próprios seriados no canal 8 (e, posteriormente, canal 2) do México. El Ciudadano Gómez também recebe uma nova versão, finalizada no mesmo ano.

1973

1974

Começam as turnês do elenco, com diversos shows realizados no México e, posteriormente, em outros países da América Latina.

1974

1979

A série Chapolin Colorado tem seu último episódio transmitido pela TV mexicana, mas não era exatamente um adeus. Ainda nesse ano, El Chanfle fazia sua estreia nos cinemas mexicanos e La Chicharra, um novo seriado de Roberto, encerra seu movimentado ano na TV.

1979

1980

O seriado Chaves também é finalizado pela Televisa, em janeiro. Logo depois, o programa Chespirito retorna à TV, com diversos quadros de todos os personagens de Roberto, incluindo Chaves e Chapolin. Ao longo da década, Roberto fez diversos outros trabalhos pontuais paralelamente, mas sempre priorizou seu programa semanal.

1980

1984

Chaves e Chapolin Colorado estreiam no Brasil, como parte do bloco TV POWWW, apresentado por Paulo Barboza, no SBT. Chapolin estreia antes, na tarde do dia 20 de agosto, enquanto Chaves chega quatro dias depois.

A dublagem das séries ficou a cargo da MAGA Produções Artísticas, empresa que se instalou nos estúdios do SBT, à época, TVS, para realizar o trabalho.

A exibição, ininterrupta, seguiu pelos 36 anos seguintes.

1984

1990

Um álbum de figurinhas e os gibis de Chaves e Chapolin são lançados no Brasil. Totalmente inéditos, os quadrinhos somaram mais de quarenta edições publicadas ao longo de três anos e são um verdadeiro sucesso entre as crianças.

1990

1992

São exibidos os últimos quadros inéditos de Chaves e Chapolin no México. Roberto estreia a peça 11 y 12.

1992

1995

O programa Chespirito chega ao fim e Roberto lança o livro O diário do Chaves, que chega ao Brasil anos depois.

Falece Marcelo Gastaldi, dublador brasileiro dos personagens interpretados por Roberto Gómez Bolaños.

1995

1999

A peça 11 y 12 é encerrada após sete anos consecutivos em cartaz. Ao longo dos anos seguintes, a peça ganhou pequenas turnês em outros países.

1999

2004

Oficializa seu casamento com Florinda Meza.

2004

2006

Roberto supervisiona a série animada do Chaves.

2006

2007

É criada a Fundação Chespirito.

2007

2012

América Celebra a Chespirito, um megaevento promovido pela Televisa em homenagem a Roberto, é realizado com o apoio de milhões de fãs de todo o continente. Nessa ocasião, o público brasileiro ganha o prêmio de “Melhor coreografia flash mob”, ao reunir mais de quinhentas pessoas em pontos turísticos da cidade de São Paulo na gravação de um clipe para a música “Que bonita sua roupa”.

2012

2014

O mundo se despede de Roberto Gómez Bolaños. Morre o gênio, nasce a lenda que continua conquistando gerações com sua obra.

2014

TERIA SIDO MELHOR IR VER O FILME DO PELÉ!…
NÃO, VAMOS VER O CHANFLE!

Roberto Gómez Bolaños sempre gostou de praticar esportes, chegando a se aventurar como boxeador, em sua juventude. Sua grande paixão, porém, era o futebol. Ainda na infância, vivia brincando com os amigos em um campo próximo de casa, e passou pela equipe infantil do clube Marte, com muito sucesso.

Os caminhos da vida, porém, levaram Roberto para outras veredas. No entanto, nosso pequeno Shakespeare sempre fazia questão de referenciar seu amor pelo esporte em seus roteiros, seja com dois meninos brincando no pátio de uma certa vila, seja um certo professor gritando gol ao acordar de um desmaio e, claro, no filme de maior sucesso de sua carreira… o tal do filme do Pelé! Calma, vamos explicar.

Chespirito era torcedor do Club de Fútbol América, um dos mais tradicionais clubes da América Latina e, claro, do próprio México. O amor pelo time era tanto que, em 1978, escreveu e produziu o filme que seria um fenômeno no ano seguinte: El Chanfle! À época, Roberto firmou uma parceria com o Club América, fazendo do time o pano de fundo da história, com o protagonista (Chanfle) sendo funcionário do clube. As filmagens, boa parte delas em locações reais, teve como grande cenário o Estádio Azteca, “casa” do América (que, oito anos antes, havia sido palco da final do mundial de 1970, que sagrou o Brasil campeão).

Para divulgar a estreia do filme, no início de 1979, Chespirito escreveu um episódio de Chaves onde todos da vizinhança vão ao cinema, e o menino sempre fala que teria sido melhor assistir a El Chanfle. A repetição da frase ao longo do episódio era um marketing e tanto. No Brasil, porém, isso se perdeu por um motivo muito simples: El Chanfle nunca estreou por aqui, o que obrigou a equipe de tradução da versão brasileira a adaptar o texto para algo que fizesse sentido e provocasse o riso do público local. Já que o filme citado era sobre futebol… o Pelé foi a solução.

O amor de Roberto pelo seu time do coração foi além com El Chanfle II, em 1982. Anos mais tarde, em 2019, para celebrar os quarenta anos do primeiro filme, o Club América teve como terceiro uniforme oficial da temporada uma homenagem ao personagem e ao próprio Chespirito, na cor laranja, com detalhes retrô.

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